25 de novembro de 2010

Para Morpheus

Tem noites que eu não consigo dormir bem. Não é o que aconteceu essas semanas que passaram.
Quer dizer, é e não é. Tive muita coisa pra fazer por esses dias, e dormir sempre foi complicado, porque acordo muito no meio da noite ( muitas vezes acordo falando ). Sinto falta do meu namorado na minha cama, não que alguma vez ele estivesse lá, nossa relação... é a nossa relação, mas quero dizer que se ele dormisse ao meu lado, eu não me importaria nem um pouco. Enfim, mas essas noites tenho dormido bem, comparando com as várias atrás. Mas meus sonhos são bizarros, sempre me acordam no susto, como na tarde em que dormi e sonhei que meu namorado me empurrava para uma caldeira de cores meio psicodélicas ( quando dormi, estava escutando Creedence, não sei se isso conta ), e várias vezes sonho que algo muito, muito, muito impossível acontece. São sonhos e é exatamente para isso que servem, serem bizarros, sim ?
Teve uma vez que dormi tarde, e sonhei com coisas que não sabia que poderiam existir. Estava em um ônibus, indo para um lugar e sentei em qualquer cadeira vazia. As pessoas agiam como agem sempre, e a tarde estava se desfazendo. Havia uma senhora negra sentada no meio, não no meio do ônibus, mas nas cadeiras do meio. Ela vestia trajes de estampa africana, com cores amarelas e verdes, tranças no cabelo, seu corpo era grande, bastante grande e ela segurava firmemente um vaso preto e branco ( ou colorido, não lembro ). Mais na frente estava um rapaz, igualmente negro, bem magro e não lembro o que vestia, mas também segurava um vaso. No decorrer que íamos avançando o caminho, as luzes do ônibus falhavam, e as cadeiras balançavam levemente. O rapaz do meu lado, sentado para o corredor, era ruivo, simpático e de rosto conhecido. Começou uma cantoria, algo que vinha de dentro e saía pela garganta, havia sentimentos naquela melodia, algo assustadoramente forte, que aumentava, aumentava e aumentava, fazendo com que a mão do passageiro ao meu lado segurasse a minha mão muito forte. Era um canto que as vezes tinha palavras e a vezes não, olhei para trás e vi que eram a senhora negra e o garoto negro que puxavam a cantoria, era algo como canções africanas, caribenhas ou do sul dos EUA. As luzes apagavam e acendiam e a senhora levantou, começou a falar coisas, pronunciava cada letra com sonoridade, gritava dentro do veículo, xingava, e aquilo fazia minha mão ser mais apertada.
Parou.
Quando silenciou tudo, todos agiam normalmente, como se não tivesse ocorrido nada. Mas o rapaz que segurava minha mão, ainda não tinha soltado. Desci na parada que tinha que descer, e o rapaz desceu comigo, não me largava. Eu achava tudo o que ele fazia muito normal. A rua estava estranha, com um ar diferente. As pessoas andavam mais depressa e as cores pareciam mais escuras. Foi quando comecei a ver máscaras, máscaras coloridas e sorridentes. Iam se multiplicando, todas pareciam muito com a senhora e o jovem negro que estavam dentro do ônibus, tudo parecia estar acontecendo novamente, só que em proporções maiores. Corri mais depressa que pude, segurando a mão do rapaz, ele corria no mesmo ritmo que o meu, não nos soltávamos.
Acordei. Parecia tudo desconexo, porque parecia inacabado. Estava inacabado.
Fiquei pensando se isso era só o resultado de dormir tarde com a cabeça cheia, ou se significava algo, não por acreditar que sonhos signifiquem algo místicamente inexplicável, mas por ficar com ele na cabeça por mais tempo do que queria.
Foi só mais um dos muitos sonhos que eu tenho todas as noites, nada importante.

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