19 de agosto de 2010

Eu não sei o seu nome, será que isso importa ?

Tem um homem que curiosamente eu encontro todo dia, ele tem o cabelo liso, castanho e sem brilho, ele anda de jeans surrado e usa uma sandália cujo a marca eu desconheço. Sua barba é tão grande quanto o cabelo, menos quando de 2 em 2 meses ele apara. A fumaça do se cigarro às vezes me faz tossir.
Sempre tive vontade de trocar verbos com ele.
                                                           -

De dentro do bar, ouvíamos o barulho das gotas de chuva morrendo no telhado, digo, ouvíamos nós, as pessoas que estavam sentadas e bebiam ( o que não se resume em muita coisa ). Eu estava sozinha como sempre, sentindo o frio que invadia invisivelmente o lugar, quieta sentada bebendo a única coisa que bebo, cerveja. Girando e bobeando com o copo, não senti uma presença se formando perto de mim.
- O de sempre, por favor.
Disse aquele desconhecido.
Olhei para o lado e dei de cara com o vazio.
- Muito obrigado.
Disse o desconhecido outra vez.
Olhei para o lado e dei de cara com o vazio.
- Oi.
Falei para o vazio.
- Olá.
Respondeu o vazio.
Porque o vazio daqueles olhos eram tão curiosos, eu não sei dizer.
- Bonita blusa, quando jovem eu costumava ouvir bastante Janis Joplin, hoje em dia só quando arrumo os LPs.
Eu sorri e balancei a cabeça com o que ele acabara de dizer.
- Que sorte eu ter vindo com esse blusa - eu respondi- porque a do Motorhead era minha primeira opção para hoje.
Ele me devolve um sorriso.
Parecia ter cara de 45 anos, não só parecia como dava uma certeza meio incerta, sei lá, usava uma camisa azul, um jeans surrado e um All Star vermelho igualmente surrado.
- Seus olhos são castanhos bem claros, não é ?! - Perguntei eufórica.
- Acho que desde o dia em que nasci, sim.
- Não dá pra reparar na primeira impressão... Nem na segunda ... Nem na terceira... Gosto da cor de olhos, desculpe falar tão de repente dos seus.
- Sem problemas nenhum, gosto de olhar olhos também, o que denuncia que reparei que seus olhos são castanhos muito escuros, quase não se pode perceber.
Ele deu o gole final em sua dose de sei-lá-o-quê e pediu mais uma.
- Consegue ouvir essa música? - Ele me perguntou.
- Acho que é wish you were here , não ?
- A maioria das pessoas que está aqui não percebe.
- É.
Ficamos calados por um tempo, um longo tempo, ouvindo não só as músicas que tocavam, mas a chuva que cada vez mais aumentava lá fora, parecendo que ia acabar com o mundo em poucos segundos.
Quando começou a tocar Medo da chuva de Raulzito, ele voltou a falar.
- Sabe o que é engraçado ?
- hum ?
- Você há tanto tempo girando esse copo com essa cerveja quente e quase no fim, de boca aberta como se isso fosse algo incrível.
- E não é ?
- Porquê deveria ser ?
- Não sei.
- É uma boa questão. Posso fazer uma pergunta ?
- Acho que sim.
- Não que seja um problema... Nem que eu ligue, ou melhor, tenha algo haver, mas ... Você me parece bem nova, acho que ... Porque está aqui ?
- Gosto de cerveja, gosto de ficar sentada, gosto de bar.
- Isso é bem esclarecedor, e rima.
- Que horas são ? - Eu perguntei olhando para a mesa.
- Mais de meia noite.
Eu olhei no fundo de seus olhos, e no fundo eu sabia que não queria ir e deixar de falar o tanto e o tão pouco com aquele homem.
- Acho que já vou - Me decidi.
- Realmente - Ele olhou para o relógio- acho que já vai.
Foi quando o fogo de seus olhos acendeu e queimou, me fazendo desviar o olhar, mas acabar não resistindo e me hipnotizar.
- Eu ... Foi bom te ... Boa sorte com sua dose de não-sei-o-quê, até uma próxima vez.
- Até.
E eu me fui, com meu guarda-chuva velho em meio de um chuvisco.

Eu não sei o seu nome,
                                        será que isso realmente importa ?

17 de agosto de 2010

Light my fire

No fundo do quarto, a chama de uma vela que queima incansavelmente insiste em me puxar para si, em fazer com que meu corpo entre em real combustão, deixando de lado a teoria.
É puro rock psicodélico que invade meus ouvidos e rompe minhas veias, é um puro e clássico duelo que enfrento em grande parte das vezes com meu corpo e minha alma, com o simples fechar dos meus olhos.
Nunca foi tão difícil tentar dormir.

13 de agosto de 2010

Passou da hora

São seis horas da tarde e algo em mim arde
Todos os pensamentos fogem e meus olhos não tomam direção
Mordendo a ponta do lápis, sinto às vezes um palpite no coração.

Com os cinco sentidos ativos, acho que preciso de um sedativo
De rimas prontas e idiotas, é tudo o que eu consigo produzir nesse instante agora.
A verdade é que me prendo aos meus pecados, quando penso em escrever predicados 


Minha mente vazia, que nada fazia, agora se enche de coisas
Meu corpo fechado, agora se abre
Eu não sei o que dizer, e a novidade é que igualmente não sei o que fazer


Uma certa liberdade poética me diz que tudo que quero posso inventar, até se isso possa me matar
o ventilador roda e não ventila nem metade da minha necessidade, e enquanto derreto meu cérebro com a tentativa de concluir
A idéia acaba de fugir.


Com um céu de estrelas penso em me deparar, enquanto a madeira de cima tira meu ar
A porta aberta me dá opção, de sair da luz e correr para a escuridão,
ou talvez o contrário, o que tanto faz, porque ambos são solitários  







7 de agosto de 2010

Contarei o que de fato aconteceu.

Como uma tarde comum de domingo, eu estava sem nada para fazer. Alan insensivelmente não calava a boca um segundo sequer, e tediosamente cansada do jeito que me encontrava, cochilava no meio de tantas histórias e observações que ele fazia. Foi quando irritado com a minha clara falta de atenção, resolveu me largar sozinha e indefesa na cama onde estávamos deitados e ir para qualquer lugar da casa em que pudesse ficar longe de mim até o momento que enfim eu despertasse. Ele, andando pela casa, achou uma pequena caixa na qual eu guardava coisas antigas e secretas. Achando um apito preto de listras verdes, gritou de onde estava, me perguntando '' Carooliiina, essas coisas aqui ainda pressstam ?! ''
'' Sim '' eu respondi, sem me dar conta do que ele exatamente havia me perguntado. Curioso, ele apitou aquele apito cheio de poeira e nojento, fazendo assim com que todas as coisas que estavam ao seu redor se apagassem, deixando tudo em branco como uma folha não rabiscada.
Desesperado, ele começou a tentar andar por um monte de nada, o que o fez chegar em exatamente lugar nenhum. Chegando a conclusão de que não conseguiria sair dali tão cedo, sentou no que parecia branco ( e era ) e apoiou a cabeça em uma das mãos, como fazem pensadores ou pseudo pensadores quando querem que as pessoas pensem que estão pensando.
Ali, no meio onde estava, as coisas começaram a se auto-desenhar ( e se auto-apagar também, quando algo saía torto ).
Alan, em seu mais ato heróico, saiu correndo a procura de algo que o tirasse daquela situação. Correu, correu e olhava para trás quando achava que devia olhar para trás, em uma dessas, virando novamente sua cabeça para frente, um homem lhe parou e lhe perguntou '' Do you come from de land down under
                                                                    Where womem glow and men plunder ? ''
Por cinco segundos, Alan ficou parado, estático, como se pudesse cair ali mesmo. No sexto segundo ele riu, no oitavo segundo correu como nunca correu antes. Já ia longe quando ouviu um fraco eco da voz do homem gritando '' Can't you hear, can't you hear the thunder ?
                               You better run, you better take cover. ''
No meio do caminho, deparou-se com algo que literalmente não esperava. Uma aranha sanguinolenta de mais de três metros de altura que estava sedenta por cada linda parte que o corpo de Alan possuía!
Enfrentando seu medo incurável de aranhas, Alan Mussoi ( o terrível ) pegou areia do chão que pisava e jogou nos olhos daquela aberração, mas infelizmente acertou somente cinco olhos, restavam três para que ela pudesse mirá-lo e pegá-lo.  Alan não desistiu, pois, mexendo em seu bolso encontrou uma pequena faquinha
que usava para tirar os fios soltos que geralmente ficavam em minhas roupas. Com a ótima mira que tinha, acertou em cheio uma parte que as aranhas consideram vital ( mas que não nos revelam, é claro ).
Orgulhoso de ter matado aquela aranha ninja ( sim, era ninja), Alan achou um bar onde quer que estivesse, o bar o fez lembrar de sua infância ( é ).
Ali ele entrou, e apesar de detestar cerveja, achou que deveria tomar uma, pediu ao atendente que lhe trouxesse uma Heineken, porque essa patrocinava a liga dos campeões.
Bebeu toda a garrafa daquele líquido sagrado e cantou '' we are the champions '' um típico clichê, há.
Distraído, nem percebeu que novamente tudo tornava a ficar branco novamente ( só conseguiu perceber quando a fichinha da garrafa desapareceu ).
Novamente em casa, Alan foi correndo me contar tudo o que aconteceu, me deixando surpresa por longos dois segundos. Dizendo que o amava, voltei a dormir.
Maluco esse Alan, não ?

1 de agosto de 2010

Em uma ocasião me disseram que o homem não vive de música e poesia somente. Mas tem um porém, sou mulher.