11 de dezembro de 2010

Ele abre o armário onde ficam os vinhos, e não oferece sequer um gole.

Na casa de Joana é que eu e Ane nos metíamos aos sábados. Lá, todas nos tecíamos palavras e concluíamos cada pensamento sem dar-nos conta do tempo. Falávamos de coisas cotidianas naquela mais uma tarde de sábado, enquanto fazíamos a unha, sentadas eu e Joana no sofá, Ane estava no chão, contando mais uma de suas histórias que sempre nos entretia.

- ... foi então, queridas, que peguei o safado na minha cama com outro homem!
- Qual safado ? - eu pergunto, um tanto dispersa.
- Ah, Francis! Preste atenção! Era o Fabrício, alto, magrinho e fumante que conheci no mês passado.
- É que são tantos safados de quem sempre você fala, que é fácil nos confundirmos- diz Joana, que até então estava quieta.
- De fato são- afirmou Ane - não quero me apegar a nenhum mesmo, pensar assim não me faz uma prostituta de esquina, faz ?
- Hahaha, provavelmente não.
- Enfim, até gostava dele, mas... Já suspeitava que comíamos da mesma fruta.
- Bom- eu digo- E o que você fez quando pegou os dois ?
- Minha vontade foi de jogar água quente no pinto de ambos, mas fechei a porta, esperei que saíssem, sem dizer uma palavra. Quando de noite, mandei um torpedo dizendo '' acabou ''. Não vi outras opções do que fazer.

Naquele momento Joana passava uma linda cor escarlate em suas unhas dos pés, que combinavam com sua pele branca e lisa, faziam par também com seu cabelo ruivo. Ane já era o oposto de nós duas, possuía um olhar vivo e atento, cabelo curtos e loiros, bem claros, que refletiam o sol de meio dia quando saíamos juntas. Era alta e proprietária de um lindos par de seios e pernas.

- Francis, você não enjoa de blues ? - Perguntou-me Ane.
- Fala do cabelo ou música ?
- Seu cabelo, é claro.
- Não.

Eu tinha cabelos azuis, que naquela tarde, pareciam mais coloridos que antes, quase não se percebia que precisavam de outra mão de tinta. Deveria ser a iluminação.

- Não enjoaria de meu cabelo assim tão fácil, Ane.
- Sei. Porque está tão distraída hoje ? Por acaso a noite foi boa ontem, e esqueceu de contar para suas duas únicas companheiras que conhece ?
- Porque pra você as coisas sempre tem que ter homem no meio ?
- Não, Francis querida, eu não coloquei o sexo masculino uma vez sequer nessa minha pergunta.
- Anh ... Desculpe, Ane, só não dormi bem.
- Entendo querida, mas o que me resta entender ainda mais nessa sala por hoje, é o fato de nossa amada Joana, nossa falante Joana, estar tão quieta e reservada. Vamos, Jô, fale da última trepada que deu esta semana! Haha, dessa vez se trata de homem, e eu assumo.
- Ah, Ane, você consegue ser menos... Você ? hahaha - digo eu, por saber que Ane é Ane.
- Diga, Joana, queremos eu e Francis saber tal quietude.
- Não é nada, sabe ... São só sonhos que volta e meia retornam para me assombrar.
- Aquela macumbeira que recomendei não funcionou, querida ? hahahaha
- Por favor, Ane, quieta - novamente digo eu.
- Tudo bem. Então ... Joana, o que terá sido dessa vez ? Posso fazer brincadeiras, esse é meu jeito, mas meu bem, seus sonhos me preocupam.
- Sério ? Porque ?
- Deveria não me perguntar porquê, gostaria muito que você pudesse ter noites de sono em paz, afinal, em seu rosto, posso notar e dizer que não se conta a dedo as noites em que não dormiu. Amor, conte- nos, o que se trata dessa vez ? Não venha com holocaustos, e pessoas morrendo desordenadamente, se não lhe digo para procurar uma clínica, como fiz da última vez.
- Ah, Ane e Francis, receio que dessa vez, não deverá ter sido sonho.
- Então alucinações ? - pergunto.
- Tão pouco, ou com certeza. O diabo em minha frente, quente e pronto.
- Ora, então será um delicioso sonho! Nada de ruim- diz Ane - Certa vez sonhei com tal senhor, era loiro e possuía um lindo par de olhos vermelhos, que clamavam por mim, deu uma chicotada e me levou para outro mundo, se é que me entendem.
- Não, querida, dessa vez foi diferente, quem me dera que fosse como o seu. Era ele, em carne, osso e chamas, em minha cozinha. Acordei, digo, levantei pela madrugada, para apanhar um copo de água, como normalmente o faço, e quando notei, ele estava lá, ao lado da geladeira, com o rabo pontudo balançando para lá e para cá, possuía chifres cerrados, cabelo sedoso e grande, amarrado completamente para trás, um cavanhaque negro também rodeava sua face. Era horrível a forma como me olhava! Encarava toda a parte que meu corpo possui, e nada fazia, apenas mirava.
- Certo, digamos que talvez seja verdade, o que passou a diante ?
- Clamou por meu nome, perguntou se portava vinho em meu armário, e sem permissão, abriu uma das muitas garrafas existentes e colocou em um copo, sem me servir, somente para si. Inerte em sua frente, eu não sabia o que fazer, não era sonho, tinha certeza disso, era minha cozinha, podia sentir o chão gelado nos meus pés, e escutava o som que a respiração dele, do Demônio. Ele parou e caminhou até mim, chegou perto e começou a falar. '' Você não deveria dar ouvidos a tudo o que falam. Nem todas as verdade são absolutas, e eu não sou de todo mal. É engraçado esse respaldo que você humanos criam, de certo ou errado, de sempre ter uma penitencia para algo, e eu estar envolvido nessa novela. Digo, sou só um alguém que cumpre trabalhos, pequena JôAriel ? ou Raphael ? Porque Lúcifer ? Só porque caí do céu, como vocês mesmos dizem ? Ou simplesmente não me deram e criaram todos os artifícios humanos que vocês tem, para me fazer inferior aos  outros e ainda superior a vocês ? Essa noite é tudo o que vim falar para você, pequena Joana, principalmente para você, que todos os dias reza para que as tentações do Diabo fiquem por longe de sua alma. Que mundano, senhorita, que mundano, digo em sua frente agora que não, não haveria de querer. Boa noite, e beba esse resto de vinho. '' Pegou o pão e terminou falando '' Aqui, o pão que o Diabo amassou. ''
E foi-se.

Ouve um silêncio na sala, não sabíamos se riamos ou sinceramente ficávamos preocupadas com a sanidade de Jô.

- Err... Querida ? - conseguiu falar Ane.
- Sim ?
- E você bebeu o vinho que ele deixou ?
- Hahahahahahahahahahahahahahahahahaha, puta que pariu - Não me segurei e me pus a rir.
- Francis! Não, não bebi, somente... Coloquei um pouco mais.
- Quer dizer - começou Ane - que alguém como Joana Green reza para tentações longínquas de sua alma ?
- É ... Sim, Ane, algumas vezes por noites, sim.

O tempo passava, enquanto tentávamos entender rindo, cada situação que Joana nos colocava, para tentar nos convencer que tentações de alma mereciam orações, e soluções para a insônia e delírios de Jô.
Mais tarde, andando para casa, quando fazia um pouco de calor e as ruas estavam um tanto esfumaçadas, pensei naquilo tudo, se Joana não tinha delirado e sim, realmente conversado com Ele. E que talvez, a diferença entre o sonho de Ane e o de Joana, com a mesma entidade, tenha sido o que cada uma deseja, atiçando de formas diferentes, uma mesma criatura.

Um comentário:

  1. ...traigo
    sangre
    de
    la
    tarde
    herida
    en
    la
    mano
    y
    una
    vela
    de
    mi
    corazón
    para
    invitarte
    y
    darte
    este
    alma
    que
    viene
    para
    compartir
    contigo
    tu
    bello
    blog
    con
    un
    ramillete
    de
    oro
    y
    claveles
    dentro...


    desde mis
    HORAS ROTAS
    Y AULA DE PAZ


    COMPARTIENDO ILUSION
    CAROLINA

    CON saludos de la luna al
    reflejarse en el mar de la
    poesía...


    AFECTUOSAMENTE : OS DESEO UNAS FIESTAS ENTRAÑABLES 2010- Y FELIZ AÑO 2011 CON TODO MI CORAZON….


    ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

    José
    Ramón...

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